segunda-feira, 31 de março de 2014
O que é ser gaúcho
“Ser gaúcho é uma questão de identidade, mas não basta apenas sentir-se gaúcho. Ser gaúcho não é apenas um estado de espírito. É preciso agir como gaúcho em todas as situações. Para isto, é necessário estudar a história dos povos do Sul e enfronhar-se na cultura gaúcha, assumindo e vivendo os valores gaúchos.”
sábado, 29 de março de 2014
Tá garoando lá fora
Boleia a perna, gaúcho,
E chegue cá pro galpão...
Em meus tempos de CTG, esta poesia me rendeu o troféu de 1º Lugar Declamação Adulto. Saudades!!!
VOVÓ MIMOSA, PARTEIRA
Ludwig Larré
Madrugada, 29.
Agosto de chuva e frio.
Pedro cruzava a picada
no seu baio bom de rédea.
Ah, meu Deus, o passo cheio.
Vamo, cavalo, sem susto,
voa por riba do rio.
Tá frio, meu poncho me cobre,
defende a chuva e o vento.
Mas não segura no peito
o coração que galopa,
nem seca o rosto molhado.
(Será água só da chuva?
Deve ser, que home não chora,
nem quando morre de medo
de perder mulher e filho.)
Maria ficou no rancho.
Gemia tanto a maria.
"Vai, Pedro, volta ligeiro,
traz a comadre Mimosa,
tá chegando outro menino.
Este, Deus não vai levar!"
Vamo ligeiro, meu baio!
Vence o breu desta picada,
parte esta chuva no meio,
teu galope nào tem frio.
É ali, já tá pertinho,
quando se acaba a picada,
logo de trás da coxilha.
Ô de casa, meu compadre!
Desculpe a hora sombria.
Chame depressa a comadre!
Que pegue logo a tesoura
e o demais de percisão.
Vamo indo sem demora.
Maria ficou gemendo.
De dor, de ânsia, de medo.
Ai, comadre, esse vem vivo?
Será que chegamo a tempo?
"Já cheguemo, fique calmo!
Perciso d'água fervendo
e os pano branco do aparo."
Pedro conteve seu medo,
rezou a reza do aflito.
Até que o choro explodiu."
Vem ver, compadre: é menina,
teu guri vem doutra vez."
Era menina. Mirrada,
meio feinha, a coitada,
mas tava viva, perfeita,
gracias, gracias, meu bom Deus!
Maria, ria esgotada,
ria e chorava sem dor.
Tava de alma lavada.
Era, enfim, um seu rebento,
que ela havia de criar.
Agradecia à comadre,
à sua mão abençoada,
que sempre, chamada, vinha,
competente, despreendida,
mesmo com chuva e com frio.
Depois dessa menininha,
vieram chegando os outros.
Primeiro, outra guria,
depois, enfim, o guri.
E sempre Vovó Mimosa
(que ficou vovó de todos)
vinha aparar cada um.
Com a sua velha tesoura,
quando Pedro ia buscá-la,
cruzava a picada escura
no seu zaino, a trote largo.
E atendia maria,
certeira, o cordão cortava.
E sorria, e abençoava,
com seu primeiro acalanto,
cada vidinha brotada.
As vidinhas já cresceram.
Cresceram, ficaram velhas.
Vó Mimosa já partiu.
Também Pedro foi embora.
Maria à pouco o seguiu.
E olhando os longes do tempo,
a léguas lá da picada,
no céu da minha saudade,
onde cintila pai pedro,
e agora também Maria,
passa, às vezes, numa nuvem,
montada no velho zaino,
a imagem doce encantada,
daquela Vovó Mimosa,
que puxou tanta criança
para este mundo de Deus
Ludwig Larré
Madrugada, 29.
Agosto de chuva e frio.
Pedro cruzava a picada
no seu baio bom de rédea.
Ah, meu Deus, o passo cheio.
Vamo, cavalo, sem susto,
voa por riba do rio.
Tá frio, meu poncho me cobre,
defende a chuva e o vento.
Mas não segura no peito
o coração que galopa,
nem seca o rosto molhado.
(Será água só da chuva?
Deve ser, que home não chora,
nem quando morre de medo
de perder mulher e filho.)
Maria ficou no rancho.
Gemia tanto a maria.
"Vai, Pedro, volta ligeiro,
traz a comadre Mimosa,
tá chegando outro menino.
Este, Deus não vai levar!"
Vamo ligeiro, meu baio!
Vence o breu desta picada,
parte esta chuva no meio,
teu galope nào tem frio.
É ali, já tá pertinho,
quando se acaba a picada,
logo de trás da coxilha.
Ô de casa, meu compadre!
Desculpe a hora sombria.
Chame depressa a comadre!
Que pegue logo a tesoura
e o demais de percisão.
Vamo indo sem demora.
Maria ficou gemendo.
De dor, de ânsia, de medo.
Ai, comadre, esse vem vivo?
Será que chegamo a tempo?
"Já cheguemo, fique calmo!
Perciso d'água fervendo
e os pano branco do aparo."
Pedro conteve seu medo,
rezou a reza do aflito.
Até que o choro explodiu."
Vem ver, compadre: é menina,
teu guri vem doutra vez."
Era menina. Mirrada,
meio feinha, a coitada,
mas tava viva, perfeita,
gracias, gracias, meu bom Deus!
Maria, ria esgotada,
ria e chorava sem dor.
Tava de alma lavada.
Era, enfim, um seu rebento,
que ela havia de criar.
Agradecia à comadre,
à sua mão abençoada,
que sempre, chamada, vinha,
competente, despreendida,
mesmo com chuva e com frio.
Depois dessa menininha,
vieram chegando os outros.
Primeiro, outra guria,
depois, enfim, o guri.
E sempre Vovó Mimosa
(que ficou vovó de todos)
vinha aparar cada um.
Com a sua velha tesoura,
quando Pedro ia buscá-la,
cruzava a picada escura
no seu zaino, a trote largo.
E atendia maria,
certeira, o cordão cortava.
E sorria, e abençoava,
com seu primeiro acalanto,
cada vidinha brotada.
As vidinhas já cresceram.
Cresceram, ficaram velhas.
Vó Mimosa já partiu.
Também Pedro foi embora.
Maria à pouco o seguiu.
E olhando os longes do tempo,
a léguas lá da picada,
no céu da minha saudade,
onde cintila pai pedro,
e agora também Maria,
passa, às vezes, numa nuvem,
montada no velho zaino,
a imagem doce encantada,
daquela Vovó Mimosa,
que puxou tanta criança
para este mundo de Deus
quinta-feira, 27 de março de 2014
Acho que esta música retrata um pouco da minha história, por ironia, passo a sentir os versos refletidos n'alma de dentro de um apartamento.
Guri do Campo
Cristiano Quevedo
Aprimorei o faro nas esquinas
Entrei na dissonância dos mendigos
Na praça conversei com muito velhos
E andei nos seus caminhos percorridos
Eu fui guri do campo na cidade
Com a mesma liberdade das distâncias
Apenas o meu verso é que mudou
De doce se amargou
Chorou infância
No mais eu não mudei
Ainda canto milongas no violão, que é mais um vício
E busco na janela a inspiração
Falando de um galpão neste edifício
Eu quero manter vivo o que sorri
No tempo que eu nem vinha na cidade
E agora, que ironia, eu sou saudade
Querendo achar o tempo que perdi
Eu fui guri do campo na cidade
Com a mesma liberdade das distâncias
Apenas o meu verso é que mudou
De doce se amargou
Chorou infância
No mais eu não mudei
Ainda canto milongas no violão, que é mais um vício
E busco na janela a inspiração
Falando de um galpão neste edifício
Prece Telúrica - Os Monarcas
Composição: Arabi Rodrigues / Luiz Carlos Lanfredi
Quem me dera nestes versos entregar a cada um
Aos homens do universo a grande prece comum
Chapéu de pança de burro garrão de potro puxado
Contra o vento a voz empurro gritando no descampado
Adonde foi a riqueza de campos, matas e serras
Dá pena ver a tristeza nos ranchos da minha terra
Velho Rio Grande bendito bendita terra de Bento
Na tua frente contrito invoco teu sentimento
Campeiros tomem tenência agora cantem comigo
O telurismo, a querência que o povo guarda consigo
A pampa reza parada na solidão do deserto
A sanga chora calada com a morte sorrindo perto
Adonde foi o lirismo do majestoso rebanho
Que pena tanto egoísmo num mundo deste tamanho
Quem me dera nestes versos entregar a cada um
Aos homens do universo a grande prece comum
Campeiros cantem comigo o telurismo, a querência
Que o povo guarda consigo palanqueando na consciência
À Beira da Estrada - Cristiano Quevedo
De tardezita recolho
alguns recuerdos alçados
pensamentos desgarrados
que a memória resgatou
A china que se cambiou
o rancho agora tapera
quão doce que a vida era
e tão pouco me restou
O pingo pasta em silêncio
respeita a dor de seu dono
em momentos de abandono
a quietude nos consola
Só mesmo acordes de viola
se empeço a fazer costado
que o canto brota embargado
se a solidão nos assola
É triste acender o fogo
solito à beira da estrada
é amargo o mate da espera
sem que alguém nos dê pousada
De tardezita recolho
alguns recuerdos alçados
pensamentos desgarrados
que a memória resgatou
A china que se cambiou
o rancho agora tapera
quão doce que a vida era
e tão pouco me restou
Amanhã enfreno o lobuno
alço a perna e vou em frente
esta saudade insistente
não há de me por a canga
Restam-me cartas na manga
porque a sorte me enjeitou
e o mundo me sujeitou
a viver sempre de changa
É triste acender o fogo
solito à beira da estrada
é amargo o mate da espera
sem que alguém nos dê pousada
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